Professora. Aos 73 anos e 56 de profissão, Ofélia ainda exerce a atividade

Por: Roberto Szabunia

Joinville 
Suas paixões. Mesmo aposentada, Ofélia continua
lecionando na faculdade de administração de
empresas da Univille, ensinando matemática e estatística

 De uma coisa, a menina Ofélia tinha certeza: seria professora, como a mãe. “Eu não me via em outra profissão. Dar aulas era minha vocação e foi para alcançar esse objetivo que sempre me esforcei”, diz ela, 56 anos depois de ter estreado como professora. Quando criança, praticava dando “aulinhas” para as amigas da avó, imitando a mãe Clara e a primeira professora, Diva. Agora aposentada, aos 73 anos continua lecionando, na faculdade de administração de empresas da Univille, ensinando matemática e estatística, suas paixões.


Ofélia Gomes Machado nasceu em Canelinha, onde ficou até completar a quarta série do primário, máximo a que podia chegar na cidade. Sexta de uma prole de uma dúzia de irmãos, a partir da quinta série já estava em regime de semi-internato num colégio de freiras de Brusque. “Quando não estava em aula, eu trabalhava de babá na casa de Mário Olinger (deputado estadual durante quatro legislaturas, nos anos 50 e 60).” No mesmo colégio, Ofélia fez o ginásio normal, que habilitava a dar aulas em escolas rurais. O batismo de fogo como professora, com apenas 18 anos, foi num colégio rural na localidade de Cinema, em Brusque. Depois, Ofélia fez o curso normal em Curitibanos, lá se casou e, em 1964, chegava a Joinville com três filhos – o marido ainda ficaria um tempo em Lages. “Eu sonhava em fazer a faculdade, aí consegui uma transferência para Joinville. No dia 15 de fevereiro de 1964, começava a dar aulas no colégio Germano Timm.” Ofélia ficou hospedada alguns meses na casa do padrinho, Demerval Melim – pai de José Maria Melim, ex-diretor da Escola Técnica Tupy. Em 1967, era nomeada diretora do colégio Oswaldo Aranha; dez anos depois, assumia a direção do Gustavo Augusto Gonzaga, onde se aposentou em 1984.


Reconhecimento. No ano passado, Ofélia foi homenageada por
25 anos de serviço prestado à Univille

“Eu sonhava em fazer a faculdade, aí consegui uma transferência para Joinville. No dia 15 de fevereiro de 1964, começava a dar aulas no colégio Germano Timm.”



Foco na terceira idade

O sonho de fazer faculdade se consumou em 1972, quando recebeu o diploma do curso de matemática, feito na então Furj (hoje Univille). Também se formou em pedagogia pela ACE, fez incontáveis cursos de especialização, pós-graduações e o mestrado, até chegar ao doutorado, na UFSC. “Minha tese de doutorado defendia a implantação de uma universidade aberta para a terceira idade em Joinville.” Os diversos trabalhos e artigos escritos por Ofélia têm como foco as pessoas idosas, talvez num reflexo das primeiras “aulinhas” dadas às amigas da avó.

Além da Univille, onde ainda é professora, Ofélia deu aulas na ACE até o ano passado, na Udesc, na Utesc e no Colégio dos Santos Anjos. Fundou também o jardim de infância Grilo Falante. Dos filhos, nenhum seguiu a profissão: dois são advogados e a filha é farmacêutica. Dos seis netos, também ainda não percebeu qualquer inclinação para o magistério. Resta a esperança na bisneta.

Realizada na sua trajetória, escolhida desde a infância, a professora Ofélia só guarda boas recordações destes 56 anos. Algumas bem concretas, como uma pilha de bons trabalhos escolares feitos por antigos alunos. “Veja que capricho, que letra bonita, boa apresentação”, orgulha-se, mostrando só trabalhos e provas nota dez.

Exigente e rigorosa, Ofélia não condena a utilização da tecnologia em sala de aula, mas vê certo exagero: “Ficou muito cômodo fazer contas em calculadora e pesquisar na internet. Isto deveria ser um apoio ao aluno, e não uma parte do material escolar, como quase vem se tornando”. A escola do futuro, para ela, deve respeitar os ambientes complexos e diversificados, mas favorecendo a pesquisa e a formação das pessoas. “Vejo a escola do futuro nascendo de uma volta ao passado.”

Comentários

  1. Foi minha professora (diretora) há 40 anos, no Osvaldo Aranha, saudade daquela época, saudades de todos os professores e alunos daquela época. Parabéns Dona Ofélia.
    Paulo Roberto Souza - Curitiba-Pr

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